terça-feira, 4 de setembro de 2007

Alegre debutar


Ah, era deliciosa a sensação de rebeldia, o gosto da auto-exclusão social, amargura e escuridão por todo canto, é engraçado quando percebo que qualquer ínfimo detalhe da vida tem um final e logo após este vem as memórias e lembranças, assim podendo analisar e rir dos momentos tragicamente inúteis.
E quando sentia o grito sufocando-me a garganta? Uau, como era bobinha com meus pensamentos adversos à qualquer forma de felicidade alheia! Sentada, sentindo lágrimas sem cores pingando sem sentido em chãos invisíveis, implorando uma saída e essa estava no reflexo do espelho, meio chorosa, mas estava lá, estampada, encarando-me com aqueles olhinhos desolados.
De algum modo, esse casalzinho pedia perdão por gastar água em troca de falta de energia. Choveram dias e dias, foi difícil adaptar-me a sobreviver no mundo submerso, estava em metamorfose constante, quanto mais lástimas, mais meu corpo evoluia. Guelras.
Narizes aquáticos.
Não. De jeito nenhum! Estaria eu destinada à essa vida desgostosa? Pois não mesmo!
Tratei de buscar soluções... nada no guarda-roupas, nem na escrivaninha. Um pedaço de solidão no quarto. Não serve. Um naco de bolo na cozinha. É. Fotos velhas, mensagens antigas, pensamentos envelhecidos, tudo inútil! Passos, passos, tropeço. Levantei e o que vi foi medonho.
Um rosto. Meu rosto. Minha cara estava em cacos pequenos, grandes, intermediários. Quebrou, estilhaçou. Um vitral de narizes e sentimentos pesarosos.
Pobre cabeça! Sem sua amante face não é nada mais que uma tela sem arte.
A partir dessa falha da infelicidade, a água em meu redor começou a secar e secar. Não havia mais quem abastecê-la. A dupla se fora e com ela qualquer outra expressão existente.
Os dias estavam enxutos, a estiagem foi forte e dessa vez o calor comia os restos de minha antiga personalidade. Apodrecera. Ah, esse sim. Período insípido, calmo, meditativo. Análises.
Durou muito, sem sabor, cheiro e cor. Sem bom e ruim, certo e errado, felicidade e tristeza, brisas e tempestades. Assim. Neutro.
Porém não tinha me esquecido que as coisas terminavam. Exatamente três toneladas de indiferença depois, veio ela. Pingos. Frescor. Tal como foi alternativa essa chuva! Nem de água, nem de fogo. Era feita de expressões. Sortidas, coloridas. Vieram em minha direção com fome, devorando-me a face. Parasitas!
Sorrisos!