sábado, 28 de fevereiro de 2009

Rabiscos alheios

E como as coisas evoluem, crescem e tomam tal forma que assim dá-se a pensar qual será a próxima mutação! Se planejado ao acaso, tenho minha vida como o famoso jogo de Darwin, abro o tabuleiro e deixo a vida brincar à vontade comigo. Um deleite para mochileiros carregados de histórias de bolso, em que procuro estar presente em pelo menos metade das. Andando por aí, carregando pessoas e despistando o tempo, sigo direções com sentidos avulsos e diversos, cujos caminhos percorridos já foram dos mais tortuosos, e hoje admito não querer parar de seguir em frente nunca. O incerto parece implorar por minha presença, e eu, como uma boa visita, aceito sem pestanejar. Mudando...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Neurônios

Meus dedos nadam pelos cabelos, centenas, milhares conectados à raíz dos meus pensamentos. Será que tal conexão escorre pelos longos fios e cospem as idéias ao léu? Abrem suas asas até alcançarem o infinito ou infestar outras cabeças? E se assim fosse, minha atmosfera neste quarto pequeno estaria recheado de espíritos que me batem à porta do desconhecido, sensações novas e promessas que me enchem o pulmão, correm por minhas veias e se esvaem fora do meu crânio. Expelidos. Adeus.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A chegada

A garota presenciou um frio na espinha enquanto o trem a levava a seu destino. Ela sabia que não era apenas uma canção de sexta-feira, sentia que o que vinha em direção a seus braços era muito mais do que seus discos favoritos, muito além do que Bob Dylan chiava em seus ouvidos quase cansados de esperar o tempo passar com músicas selecionadas de pop a rock. Pensamentos ocos escorriam de sua cabeça quando foram interrompidos por uma voz metálica: "the next station is Granville". Ao processar a informação lembrou-se de um passado não muito distante recheado de lembranças risonhas, pessoas marcantes e lugares incríveis. Desta vez quem a acompanhava era sua alma e uns cigarros que carregava da noite anterior... que noite louca! Parece que a cerveja ainda estava ali lhe fazendo cócegas e dando até um certo incômodo nas pálpebras. "Deixa disso".
Levantou-se e seguiu estranhos. Mesmo destino mas sentidos opostos. Saiu da estação, olhou para o céu ensolarado daquele início de verão, a brisa gelada coloria suas bochechas e o que via tecia um sorriso onde antes não havia. Prédios, construções, grandes nomes invadiam seus olhos enquanto acelerava os passos que já havia dado muitas vezes. Seguindo o caminho até a hospedagem pôde salivar o inteiro Pacífico nas vitrines que quatro dias depois havia beijado com seu batom vermelho uma por uma. Parece loucura, mas para ela foi uma das melhores experiências que lhe aconteceram após entregar restos de pizza a mendigos e tomar um belo frapuccino com dois amigos que balançam seu coração até hoje quando lhe falta motivação. Pessoas assim são difíceis de esquecer, e para uma garota com sérios problemas de memória, podem-se considerar como ao menos um capítulo da Bíblia. Amém.
A mochila equivalia ao diâmetro de uma gestação assim como seu rosto. Os dedos criando calos de carregar pelo menos um terço de seu peso, mas ele ainda estava lá... estampado entre suas bochechas enfeitando a face e atraindo olhares estrangeiros. "Que é? Nunca viu?". Mais um pouco... isso! Fitou a porta que havia fechado há duas semanas atrás, disfarçou o sorriso como se fosse gente normal e entrou. Passaporte...please. Yes. Thanks.
Mais um item lhe enchia as mãos, e esse era um alívio. Subiu as escadas, encarou o hall por um momento, e "ele" fez seus olhos paralisarem em sua aura loira recheada de mistério. Acordou e voltou a escalar mais degraus. Algumas portas, e finalmente chegara a usar o tal item. Entrou no quarto e viu um par de tênis ao lado do lixo, por um momento teve vontade de pegá-los para si, mas arrependeu-se desse pensamento em segundos e voltou a guardar suas malas no armário. Jogou o casaco em uma das camas -"essa, agora, é minha"- e convidou a bolsa para uma caminhada pela Granville Street. Acendeu um cigarro e seguiu em frente. Mais uma na multidão. Mais um livro entre mil histórias. Com a cabeça vazia, ela continuava, tragava e ia em direção à loja em que Colin trabalhava. Cherry Bomb. Nem pestanejou ao entrar, ele não era do tipo de se pensar duas vezes. Mesmo assim ela parou por um segundo e perguntou-se onde sua vergonha tinha parado. E quer saber? A garota não se importava mais.