quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Tita

Vira e mexe e tropeço nela, parece uma rêmora, praticante de seu comensalismo doméstico, tenta sugar atenção, carinho ou até um pedaço do meu petisco. Suas garrinhas ecoam ruídos agudos e me dão uma leve sensação de glamour e luxo (o porquê também não sei, simplesmente dão), a cada par de tics sobe uma vontade aguçada de roer aquelas unhazinhas gastas e duras.
Seu aroma levemente fétido me deixa tão feliz, classificaria como um fétido deliciosamente perfumado, juro que é encantador. Péssimo é quando abre sua boca, cujo hálito está conservando restos de comida há alguns bons anos, e sua arcada dentária já está esvaziando. Adoro quando ela rosna para mim, ou quando emite aqueles sons estressados e impacientes. Essas atitudes grotescas me criam o desejo de perturbá-la mais ainda apenas para ouvir suas canções burlescas.
Lá vem o focinho gélido tocar nossas mãos ásperas e imundas após afagar seu corpinho extenso e franzino, ele é teimoso e sua umidade refrescante dá um certo nojo, algumas doces ocasiões gosto de cutucá-lo para ver como fica irritadiço e mais molhado. Mas o que mais me encanta são suas longas orelhinhas finas cujas veias marcam caminhos desconhecidos rumo ao delicado coração, elas são tão apetitosas e sua inquietação pede o tempo todo por uma mordida meiga e carnívora.
Pêlos dourados como mel fiados em uma pele flácida, macia e encarniçada, um movimento e da epiderme transportam-se para algum objeto mais próximo de seu ser. Sinto-me bem quando meus dedos entrelaçam esses fios parasitas, estimulam minha vontade de encravá-los na sua cútis.
E são as mesmas velhas perninhas curtas, cujas patas gordas e rachadas sustentam todos os cinco quilos dessa incrível criatura. Colocaria-nas na boca se não fosse anti-higiênico. Amo o modo de agir dela, toda machona e calma, mas principalmente o estado alucinógeno em que se encontra em suas tardes ensolaradas e entediadas. Estaria ela queimando seus ínfimos neurônios?

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